quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Neuromancer


Nos anos 80, William Gibson tornou-se conhecidos como o pai da literatura Cyberpunk, que procurava extremizar a ira da rebeldia “punk” contra o “sistema” num futuro próximo, um século 21 que se imaginava dominado pela informática e por grandes empresas privadas (ou megacorporações).
Neuromancer é um romance de 1983 e o primeiro da Trilogia Spraw, seguido por “Count Zero” e “Monalisa Overdrive”. Esta edição da editora Aleph se chama Neuromancer 25 pois comemora os vinte e cinco anos da série. A história segue o protagonista Case, um Hacker (Chamados de Cowboys do Ciberespaço na série) de renome, traído e envenenado por empregadores anteriores e incapaz de se conectar à Matrix novamente. É isto mesmo, os acessos são feitos por conexões implantadas cirurgicamente no sistema neural das pessoas, um conceito utilizado mais tarde pelo filme Matrix(que também utilizou o nome matrix, que em Neuromancer se refere à Internet).
Conhecemos Case desempregado e drogado, tentando fazer sua conexão voltar à funcionar com ciruegias em clínicas ilegais de Chiba City, um Spraw do Japão que abarca toda a ilha de Honshu. Mas as coisas começam à mudar, pois alguém viu talento em Case e está decidido à patrocinar sua recuperação para que realize uma missão em seu nome, e este é só o inicio para uma espiral insandecida de conspirações, espionagem industrial e ação para a vida de Case.
A Matrix pela visão de um usuário
Não se pode falar muito à respeito do enredo sem estragar muitos momentos de surpresa que ele traz (muito bem feitos por sinal), mas tenho muito à falar à respeito do cenário que Gibson criou para contar sua história, pois seu mundo, assim como a Terra Média, está mais para protagonista do que o próprio Case.
O mundo revelado em Neuromancer é um retrofuturismo distopiano, um futuro do pretérito, algo que é parcialmente futurista e parcialmente datado, um futuro que poderia ter acontecido. O mundo é caracterizado pelos Spraws, megalópoles tão monstruosamente grandes que chegam à cobrir estados inteiros, ou mesmo pequenos países (prefiro o termo Metroplexo de Shadowrun). O mundo é praticamente dominado por empresas privadas, sendo que os governos têm pouco poder, com agentes de segurança com partes biônicas conhecidos como samurais urbanos(ou Razor Girls para algumas mulheres, como é o caso de Molly, a parceira de Case).
Umas das maiores características que Gibson preveu foi a feroz globalização, pois inúmeras nacionalidades são citadas a todo momento, o mundo está tão próximo pela internet (matrix) e pelas viagens super rápidas que não se passa três parágrafos sem uma nacionalidade diferente ser citada, seja um barman brasileiro, uma cidade japonesa, um computador russo, uma arma italiana ou um técnico finlandês. Gibson diz ter sido fortemente influenciado pelo filme “Fuga de Nova York” de John Carpenter (o mesmo filme que influenciou a criação do personagem principal de Metal Gear), que mostra uma Nova York transformada em prisão no futuro, com tecnologia e brutalidade dividindo diariamente as ruas.
Todos os livros deviam ser baseados em Fuga de Nova York
O mundo de Gibson é rico em detalhes, com linguajar próprio (me lembrando um pouco Laranja Mecânica), que teriam se baseado nas gírias dos motoqueiros de Toronto, e termos cunhados pelo autor, principalmente para descrever novos materiais sintéticos, como o Ultracromo, mas normalmente povoando o máximo possível do mundo com o sintetismo, pois nada é natural, crescido ou cultivado como madeira, tudo é de plástico, espuma ou metal, tudo foi moldado. As pessoas carregam “decks”(notebooks ou laptops) e a internet está em todo lugar, mas curiosamente telefones continuam presos aos seus cabos, pois não há celulares, assim como o fax ainda é uma coisa super futurista e utilizado em todo lugar, e os vídeos cacetes também.
Outra coisa curiosa é que as empresas japonesas dominam o mundo moderno, pois Gibson viveu em uma época em que o crescimento do Japão em termos de avanços e tecnologias era tão vertiginoso que parecia impossível de parar, mas esta foi outra coisa que mudou drasticamente com a crise econômica japonesa dos anos 90 que se alastra até hoje. Mas imaginem que ao mesmo tempo Gibson preveu o uso generalizado da internet, algo que à seu tempo era exclusivo das forças armadas americanas e era conhecido como Arpanet. Outra  coisa comum é a substituição de membros do corpo por partes biônicas, membros mecânicos superfortes, olhos com displays, armas subdermais e outra modificações são tão comuns como carros, algo que pode não estar tão longe assim. Grandes avanços parecem ser impossíveis em algumas instâncias, mas hoje apesar de não serem concretas, não parecem mais inatingíveis, como é o caso das inteligências artificiais, já uma realidade no Spraw.
Capa do jogo de computador de 1988… este ano eu estava ocupado nascendo.
As modificações físicas dão base à outra coisa, uma característica que achei uma falha no começo mas entendi que fazia parte do contexto: as pessoas não possuem religião, crença ou ideologia, elas vivem pelo consumo, pela atualização de suas partes biônicas e pelo prazer de adquirir e expor novidades, algo nada parecido com o que vivemos hoje em dia.
Neuromancer é um livro que influenciou muito nosso mundo e a cultura moderna, sendo considerado peloThe Guardian como o romance mais influente dos anos 90 e 80. Muitas palavras foram cunhadas à partir do livro ao mesmo tempo que Gibson criou nomes para coisas que nem ao menos existiam, como é o caso do ICE, que é o mesmo que um Firewall de hoje em dia assim como os decks como computadores pessoais móveis e a Matrix como internet. Este livro foi para mim uma experiência única, pois eu o li sabendo toda a importância por trás dele.  É um livro que é uma necessidade de leitura para qualquer fã de ficção, uma previsão genial que deixou uma marca merecida na história da literatura.


FONTE: http://www.grifonosso.com

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